Inaugura este sábado, 11 de Janeiro, a partir das 16h30, a exposição ‘Este Corpo Não é Meu’, na qual o autor, Jorge Abade, traz-nos trabalhos de diferentes momentos do seu processo criativo.
Curadoria de Cláudia Melo, que assina o texto da folha de sala:
Procuro-me.
Revejo-me.
Espelho-me.
Propago-me.
Desfaço-me.
Purifico-me.
Do corpo,
E volto.
O óxido quis consumir mas a alma não deixou.
Luta buliçosa, circunspecta e constante entre o corpo que vive e o corpo que morre, entre presente e passado, entre o tempo e a forma que dele provém.
Nenhum ganha. Todos se necessitam.
O corpo vivo de falso vazio, cadáver cheio de anima, não seriam, se aqui não se tivessem comprometido a habitar esta parcela, apresentada em forma de
corpo que habita outro corpo.
Convoca-se assim o contraditório, mas a obra de Abade é reveladora de vida e sujeito, e por isso usam-se os termos sem desaire.
Assenta entre sagrado e profano, numa tentativa da sua im (possível ) racionalização, e movimenta-se entre o acrisolamento do vinagre, purga infligida, ao lascivo enleio e desenleio de pele e órgãos (entre o corpo e as formas e as formas e o espaço, e o tempo).
Numa dialética de intrusão e extrusão os corpos relacionam-se.
E essa relação confirma a necessidade, ainda, de se repensar o corpo e a condição artística.
As peças são resultado de um acto performativo endógeno. Sem ele não existiria matéria. A performance é, aqui, processo, meio e também fim, complementando estes e aqueles, vitalmente. Ocupa o espaço entre a ideia e a materialização.
Esses actos são de volúpia, de encontro, de ajuste, de agrado, de submissão insubmissa da matéria ao corpo e do corpo à matéria, reveladores das entranhas, assim como se Hera e Afrodite andassem de mãos dadas, morrendo.
Para depois, em contrição, renascerem.
#arte