Este projeto chama-se In the eyes of Queens and Kings e retrata artistas de drag no ambiente de sua casa, explorando a esfera mais íntima, longe das luzes dos palcos. Através destes retratos, dá-se a conhecer melhor o artista, não só o seu estilo característico, mas também de que forma os elementos presentes em cada ambiente e contexto contribuem para a desconstrução da ideia de pessoa excêntrica e inacessível. O observador entra na casa e depara-se com o ambiente que contextualiza o retratado no meio da sua esfera pessoal de coisas, bem no centro da sua vida (real). Como se tivéssemos private pass para o interior da própria transformação, numa inesperada encenação daquilo que é, no final de contas, natural e define a própria excentricidade fulgurante destas 15 pessoas retratadas.
Embora Drag não seja novidade absoluta, tem vindo a evoluir na sua expressão tendo ganho, nos dias de hoje, bastante popularidade. Em East London, one vivi, existem diversos clubs e bares com shows de drag e foi através da experiência directa que encontrei uma comunidade de artistas que tenta reinterpretar esta arte à sua imagem. O elemento mais rico são as pessoas e as suas historias, de onde vieram, porque usam drag como forma de expressão e/ou de identidade.
Ainda existem preconceitos e imagens rígidas do como cada um deve se mostrar e viver em sociedade. Quis com esta serie mostrar que a beleza está na individualidade, na liberdade de cada um se exprimir de forma única. Este trabalho mostra a diversidade da comunidade drag de East London e apoia a aceitação e inclusão de artistas drag transsexuais na indústria.
Sobre a relação Eu/Projeto:
Após terminar o curso de arquitectura na Faup, decidi ir para Londres estudar cinema, o que despertou uma vontade em contar historias através da câmara. Vivi quase dez anos em Londres e reconheço que a diversidade cultural é dos fatores mais interessantes da cidade e abre o nosso horizonte para culturas diferentes. Comecei por fazer retratos de estranhos na rua, eram encontros rápidos mas dava para iniciar uma conversa. O meu olhar recaía sempre em pessoas com sentido de moda mais arrojado, com estilo marcante, o que me levou a fotografar streestyle durante as Fashion Weeks para revistas como a New York magazine. Partindo do pressuposto que a moda é um instrumento de expressão pessoal, interroguei-me sobre qual seria o nível seguinte. Encontrei a resposta no drag e dei inicio em 2017 a ao projeto In the eyes of Queens and Kings. E em 2019 o retrato de Just May, parte desta serie, foi selecionado para o premio Portrait of Britain. Tenho trabalhado com diferentes artistas, marcas variadas e o meu trabalho tem sido publicado em revistas e livros no Reino Unido, EUA e Portugal.
